Livro da parceria entre a ONG Redes da Maré e a editora Caixote, onde uma criança enfrenta o medo do monstro em situações de violência.
‘Um episódio de grande agitação aconteceu durante um evento festivo, quando minha companheira foi derrubada, e eu a ajudei a se reerguer puxando seus cabelos. Essa situação gerou risos e posteriormente lágrimas entre nós’. A passagem é retirada do livro ‘Eu devia estar na Escola’. A agitação ocorreu devido a uma ação policial efetuada no Complexo da Maré, conjunto de comunidades localizado na zona norte do Rio de Janeiro, narrada por uma criança conta.
No entanto, é alarmante a frequência da violência policial em muitas comunidades, demonstrando a triste realidade da violência das autoridades nas periferias urbanas. É crucial buscar soluções eficazes para coibir tais abusos e garantir a segurança e dignidade de todos os cidadãos, especialmente os mais vulneráveis. É fundamental promover o diálogo e a educação como ferramentas essenciais na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde a violência policial seja combatida e erradicada de forma eficaz e definitiva.
Uma tentativa de dar voz às crianças e adolescentes vitimados pela violência policial
O livro produzido em parceria entre a ONG Redes da Maré e a editora Caixote tem como objetivo principal dar voz às crianças e adolescentes da Maré, que passaram por situações de violência das autoridades em seu próprio território. Nele, são encontrados relatos impactantes que revelam o medo do monstro real, o medo de perder a vida.
Uma das colaboradoras do livro, Ananda Luz, destaca a importância de reconhecer que a violência policial não é apenas um obstáculo passageiro na infância, mas algo que traz consequências profundas. Ela enfatiza a diferença entre sentir medo de criaturas imaginárias e o temor legítimo de perder a vida diante da brutalidade policial.
Ananda se refere a si mesma como uma escriba, papel que compartilha com Isabel Malzoni, responsáveis por organizar os relatos e desenhos das crianças e adolescentes. Ao apresentarem o livro às crianças envolvidas, estas se reconhecem nele, sentindo-o como uma parte genuína de suas histórias.
O processo de criação do livro teve início em 2019, quando a ONG entregou ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro cartas e desenhos de crianças que sofreram com a violência das autoridades. A ideia de transformar esses registros em um livro surgiu após o contato com Isabel, que percebeu o potencial dessa iniciativa.
Os dados alarmantes coletados pela ONG Fogo Cruzado evidenciam a gravidade da violência policial na região, com 642 crianças e adolescentes baleados e 289 vidas perdidas apenas na região metropolitana do Rio de Janeiro, desde julho de 2016. Dentre os atingidos, quase metade foi ferida durante operações policiais, e um terço foi vítima de bala perdida em situações corriqueiras.
O livro surge como uma forma de resistência e denúncia desses acontecimentos, permitindo que as vozes das crianças sejam ouvidas e suas experiências compartilhadas com o mundo. A cada linha escrita, uma tentativa de tornar visível o invisível, de trazer à luz o impacto da violência policial nas vidas mais vulneráveis de nossa sociedade.
Fonte: @ Agencia Brasil
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