Reinaldo, Léo e historiadores comentam carta centenária. Luta contra racismo, entrevista com zagueiro do Vasco, adaptacao de time de 1923 e nova liga em debate.
Vasco completa 100 anos de um marco histórico que mudou a trajetória do clube e do futebol brasileiro. José Augusto Prestes deixou um legado de luta contra a discriminação ao enviar a carta que deu início à Resposta Histórica em 7 de abril de 1924.
O time Vasco, desde então, carrega consigo os valores de inclusão e igualdade, inspirando gerações e mostrando a importância de se manter firme contra o preconceito. O clube segue honrando sua história e sua missão de combater qualquer forma de discriminação no esporte.
Luta contra o Racismo e a História do Vasco
O documento revelou que o Vasco tomou a decisão de se retirar da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), que havia exigido do clube campeão carioca de 1923 a exclusão de 12 jogadores – a maioria deles, negros e brancos de baixa renda.
Reinaldo, ídolo do Atlético-MG, também envolvido na batalha contra o preconceito nas décadas de 70 e 80 no futebol, enalteceu a trajetória do Vasco e a Resposta Histórica. O atacante ressaltou que sem essa luta contra o racismo, o Brasil não teria tido Pelé. — O Vasco da Gama é um clube notável do futebol nacional.
Ao tomar essa atitude, dando o primeiro passo para combater a discriminação, o clube se tornou ainda maior. É crucial continuarmos batalhando contra esse racismo, contra esse preconceito. É uma injustiça, uma afronta — declarou Reinaldo, que acrescentou:
— Essa luta contra o racismo já tem cem anos, é uma luta contínua contra o preconceito. Seguir o exemplo do Vasco, do José do Patrocínio.
Imagine o Brasil sem negros em sua história, sem Pelé, nosso rei, um ícone da negritude.
Em uma entrevista realizada em 2007, Pelé também reconheceu a importância e a influência que o clube teve em sua carreira, pois o Vasco foi o responsável pela sua primeira convocação para a Seleção, em 1957. — Minha carreira começou praticamente no Vasco.
Reflexos do Clube e Identificação de Léo
No elenco atual, os Camisas Negras refletem sua influência no zagueiro Léo
Identificado com o Vasco, o jogador destacou que compreende a situação dos que foram ameaçados de exclusão no passado e busca por um futuro mais igualitário para todos. — Eu me solidarizo com aqueles que mudaram o rumo da história. Eles tentaram excluí-los. ‘Ah, agora temos que construir um estádio’. E eles construíram. As pessoas acham que nós, negros, queremos ser superiores a alguém. Não é isso que buscamos.
Queremos igualdade, oportunidades iguais. Essa carta não afeta apenas o mundo do futebol, ela impacta a sociedade como um todo. Léo afirmou que a trajetória do Vasco teve influência em sua adaptação ao clube, mencionou que se sentiu representado na Resposta Histórica e afirmou que, sem ela, ele não estaria jogando futebol.
— Há pessoas que sonham em se tornar advogados, jornalistas, jogadores de basquete.
Essa carta influencia a comunidade global. É algo muito especial. Minha identificação com o Vasco é profunda. Em um mês aqui, já parecia que eu estava no clube há um ou dois anos. Eu me enxergava naquele documento, nas palavras ali. Um presidente que teve a coragem de escrever aquilo quando tudo estava contra. Sou muito grato ao Prestes (presidente da época), porque sem essa carta, eu não estaria aqui.
Eu me vejo como parte da história, e por isso sou grato ao Vasco.
O Time de 1923 e Sua Formação
O Vasco conquistou seu primeiro título em 1922, ao vencer a segunda divisão carioca. O time já contava com jogadores, em sua maioria negros e pobres, que fariam parte do título da primeira divisão no ano seguinte.
O historiador João Malaia explicou que o dirigente Raul Campos contratou destaques de outros times da liga suburbana, fora dos grandes clubes, para formar os ‘Camisas Negras’. — Antes, o Vasco era considerado uma equipe fraca. O dirigente Raul Campos fez algo que não era permitido: os times não podiam pagar seus jogadores, então ele foi até os principais clubes da liga suburbana e trouxe jogadores para o Vasco.
Vencendo o campeonato carioca em sua primeira participação, o Vasco surpreendeu os grandes times do Rio de Janeiro da época, que saíram da Liga Metropolitana para criar a AMEA. — A maioria desses jogadores era de origem negra ou extremamente pobre, que recebia compensação financeira para jogar futebol. Os principais times do Rio não conseguiram provar isso, então decidiram formar uma nova liga.
Eles aceitariam o Vasco, desde que o clube eliminasse vários jogadores, incluindo os principais do elenco, que haviam conquistado o Carioca de 1923, explicou João Maiala.
— O Vasco campeão mostrou que em pé de igualdade, não há etnia ou raça superior. Para vencer, é preciso estar em condições iguais.
E é aí que o melhor prevalece — afirmou Walmer Peres, historiador do Vasco.
A Importância da Resposta Histórica
É nesse contexto que surge a Resposta Histórica. Em 7 de abril de 1924, o Vasco enviou uma carta, assinada por José Augusto Prestes, a Arnaldo Guinle, presidente da comissão organizadora da nova liga.
No documento, o diretor se recusou a liberar os 12 jogadores que a AMEA havia exigido a exclusão do elenco vascaíno. — Na Resposta Histórica, não havia questão de raça, nem na exclusão, nem na carta. Nós que atribuímos isso mais tarde, porque era muito além da raça. Além dos negros, excluía os pobres de jogar — explicou Marcelo Carvalho, do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
Dessa forma, o Vasco se recusou a participar do Campeonato Carioca organizado pela AMEA e permaneceu na Liga Metropolitana, onde foi campeão estadual mais uma vez em 1924. — Em 1924, a AMEA sem o Vasco, somando todos os jogos, teve 170 mil torcedores em público. Em 1925, com o Vasco, o público total ultrapassou 394 mil.
Isso levou a uma construção política para reintegrar o Vasco à AMEA — disse o historiador João Maiala.
— O futebol se tornou popular. A entrada de pessoas negras possibilita que muitos afrodescendentes comecem a jogar futebol por questões financeiras.
O debate sobre esse tema começou com a Resposta Histórica do Vasco — afirmou Marcelo Carvalho.
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Fonte: © GE – Globo Esportes
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