Estagnação da Selic pode desacelerar mercado imobiliário no final do ano, afetando o crédito real e a taxa de crescimento, segundo artigo de Pedro Tenório, especialista em regime de uso e mercado nacional, regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários.
À medida que nos aproximamos do último trimestre de 2024, o mercado imobiliário enfrenta um cenário de incertezas e mudanças significativas em relação às expectativas iniciais do ano. No início de 2024, o crescimento da renda, o fortalecimento do Minha Casa Minha Vida (MCMV) e a tendência de continuidade nos cortes da Selic indicavam um cenário de estabilidade e evolução sustentável para o mercado imobiliário. No entanto, apesar de algumas dessas tendências permanecerem, como o crescimento de 5,5% na concessão de crédito real em junho em comparação com os 12 meses anteriores, mudanças conjunturais têm impactado significativamente a forma como o mercado projeta seu futuro.
Após uma forte expansão em 2023, o MCMV continua sendo fundamental para o setor imobiliário, mas não impulsiona o crescimento do mercado de compra e venda da mesma forma em 2024. A incerteza econômica e a volatilidade do mercado de locação também têm influenciado a tomada de decisões dos investidores e compradores, tornando o cenário atual mais desafiador para o mercado imobiliário. A busca por estabilidade e segurança se tornou uma prioridade para muitos, o que pode afetar a dinâmica do mercado nos próximos meses.
Impacto das Alterações da CVM no Mercado Imobiliário
As mudanças implementadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no regime de uso de títulos privados, como LCI, CRI ou LIG, devem ter um impacto negativo no crédito real. Embora não haja dados concretos até o momento, é provável que as novas restrições tornem o financiamento imobiliário mais caro e, consequentemente, menos atraente. Isso pode afetar o mercado imobiliário, que experimentou um crescimento significativo nos últimos anos.
O mercado imobiliário pode sofrer uma diminuição no ritmo de crescimento dessas modalidades de financiamento, com um crescimento relativo no protagonismo de métodos tradicionais como o FGTS e o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). Além disso, o término do ciclo de cortes da Selic (atualmente em 10,5%) sinalizado pelo BC e as surpresas negativas da política monetária dos EUA podem impactar o mercado de compra e venda de forma considerável.
Fatores Políticos e Juros no Mercado Imobiliário
Fatores políticos podem aliviar ou pressionar ainda mais os juros futuros. A falta de credibilidade fiscal do governo tem afetado diretamente o setor imobiliário, pois mais gasto público indica aumento da inflação e, como resposta, aumento da Selic, o que encarece o crédito. No entanto, medidas anunciadas de corte de gastos podem refletir positivamente nos juros e nas expectativas do mercado, impulsionando a compra e venda de imóveis.
O mercado de locação, com sua dinâmica própria, continua aquecido. Entre janeiro e junho, a taxa de crescimento dos aluguéis passou de 16,2% para 14,9%, mantendo-se ainda em um patamar alto. A situação dos EUA também deve ser levada em consideração, uma vez que a escalada do dólar pode pressionar o IGP-M, um dos índices usados no reajuste dos aluguéis.
Perspectivas para o Mercado Imobiliário
O desemprego continua em queda, e a renda teve incremento de 11,7% em 2023, o maior desde o Plano Real. Mesmo que o aumento deste ano não seja tão expressivo, é certo que esse indicador influencia positivamente a economia. Portanto, o cenário dos próximos meses é de redução (ou correção) do otimismo. O mercado imobiliário deve permanecer aquecido, ainda que com crescimento mais moderado.
Confirmadas todas as tendências, haverá desaceleração somente no final deste ano ou início de 2025. Será um pouso suave, sem solavancos, preparando o setor para um novo ciclo de crescimento sólido, assim que existirem condições para isso, o que depende, sobretudo, da tão aguardada retomada do processo de redução da Selic. O mercado nacional deve se adaptar a essas mudanças e encontrar novas oportunidades de crescimento no setor imobiliário.
Fonte: © Estadão Imóveis
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