Treinadora da Ferroviária, mãe entre quatro chefe-times da Série A1 Feminina: vida diária de leves comprometimentos com equipe e campo, controle total no processo considerado positivo. Liberdade para ser mãe e trazer filha: duas funções, singularidades verdadeiras. Cuidar e educar também em viagem.
Há quase dois anos, a vida de João da Silva mudou. A chegada do pequeno Miguel em março de 2021 transformou o dia a dia do engenheiro em casa e também no trabalho. Com o filho, o pai aprendeu que as coisas podem ser mais leves, mas sem deixar de lado o comprometimento com o bem da equipe e da família.
É fundamental cuidar e educar os filhos com amor e dedicação. A missão de criar e ensinar novas gerações é desafiadora, mas recompensadora. Instruir as crianças com valores sólidos é essencial para o seu desenvolvimento pleno.
Cuidar e educar: um desafio constante
Quando se é mãe, quando se é treinadora, a vida deixa de girar em torno de si mesma. Não se pode mais ser a protagonista das ações do dia a dia. O controle total se esvai. A partir do momento em que as crianças entram em campo, o controle se transforma. Às vezes, nem se deseja tê-lo, mas não é como no treino, onde se pode parar e repetir. Minha filha também. Eu digo não a ela e ela faz exatamente o que não deveria ser feito (risos). Isso está desconstruindo a Jéssica que teve uma criação totalmente diferente, autoritária, baseada muitas vezes na violência. E isso não é o que desejo para as meninas, nem para minha filha – ressaltou a treinadora, que celebra seu segundo Dia das Mães neste domingo.
Aos 42 anos, e na Ferroviária desde 2022, Jéssica é a única mãe entre as quatro mulheres técnicas dos 16 times da elite do Campeonato Brasileiro Feminino. Sua filha nasceu em seu primeiro ano como treinadora das Guerreiras Grenás. A gestação foi de sua esposa, Milene Souza, por meio de fertilização in vitro (FIV). Mesmo assim, Jéssica se viu dividida entre as fases da maternidade e o trabalho, um processo considerado positivo diante das condições oferecidas pelo clube.
Fico contente por ser mãe, mas não tanto por ser a única mãe. Acredito que ainda há muitas barreiras a serem quebradas para que alguns lugares sejam como a Ferroviária, onde se pode ter a liberdade de ser mãe, de trazer minha filha para o treino, como fiz várias vezes, e até levá-la em viagens, se necessário. Sei que nem todos os lugares oferecem essa liberdade. Isso pode ser um obstáculo para que as mulheres que desejam seguir uma carreira profissional tenham que fazer escolhas. Às vezes, por uma questão financeira, acabam optando por uma carreira profissional.
Para Jéssica, ser mãe e ser treinadora possuem muitas singularidades e podem ser comparadas no dia a dia. Assim como é desafiada no relacionamento com a pequena Luísa, também enfrenta desafios semelhantes com as jogadoras da Ferroviária. Ser mãe e ser treinadora, para ela, são papéis cheios de singularidades, quase totalmente. É um verdadeiro ato de cuidar, educar, e cobrar. Luísa a desafia diariamente, assim como as jogadoras. Há momentos em que está exausta como mãe, momentos em que está cansada como treinadora. Há momentos de extrema felicidade com ações das atletas em campo, com a equipe, e momentos de alegria ao ouvir sua filha pronunciar uma nova palavra.
Há momentos de cansaço, de irritação, e sua filha a faz ter paciência, assim como as jogadoras também a ensinam a ter paciência. O primeiro ano de vida de Luísa foi um dos mais especiais da carreira de Jéssica no futebol. Em 2023, quando a filha começou a dar os primeiros passos e a falar as primeiras palavras, a mãe chegava à sua primeira final do Brasileiro como técnica – a quinta na carreira, sendo quatro como jogadora.
Fonte: © GE – Globo Esportes
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